“Corre um boato na beira do rio que o velho chico  pode morrer virar riacho e correr pro nada” ROBERTO MALVEZZI (GOGÓ)

Nós, participantes do I Seminário Regional da Pastoral da Juventude do Meio Popular do
Regional Nordeste 3, reunidas e reunidos entre os dias 24 a 27 de janeiro de 2019, na Diocese de  Juazeiro, em Casa Nova-Bahia, vimos, em carta, manifestar nossa solidariedade a população da  comunidade de Brumadinho do Vale do Paraopeba, Minas Gerais, que foram vítimas de um terrível crime ambiental ocorrido na manhã dessa sexta-feira (25 de janeiro), pelo rompimento da Barragem
da Mina Córrego do Feijão pertencente a Companhia Vale do Rio Doce.
Há apenas 3 anos do rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, que devastou o Rio Doce e as regiões de sua Bacia, agora, o Rio Paraopeba e a Bacia do Rio São Francisco, estão sob a mesma sina de assistir, sem nada poder fazer, a mais um episódio catastrófico, que a Bacia do Rio Doce viu há pouco tempo.
Enquanto pastoral, tendo por ensinamento no livro do Gênesis, no qual Deus coloca os seres
humanos como continuadores da sua Criação, dando-lhes a missão de Cultivar e Guardar a nossa Casa Comum (Gn 2, 15); entendemos que o progresso é uma etapa importante na civilização humana, desde que contemple as dimensões econômica, social, ambiental e sobretudo humana. Para tanto, faz-se
necessário o zelo, o cuidado pelas vidas, pelo conjunto de ecossistemas envolvidos, de forma a não contemplar, unicamente, o lado financeiro do mundo.
As vidas existentes no grande vale do São Francisco, todos seus ecossistemas, certamente não oram consultados sobre os grandes projetos mineradores, em Minas Gerais, mas estão sendo convidados a partilhar de todas as desgraças dos rejeitos ora lançados nas águas do grande rio. Serão mais de 15 milhões de brasileiros, além de plantas e animais, da atual e futuras gerações, irremediavelmente atingidos por esse desastre que, até o momento, não se sabe o tamanho das consequências. Sabe-se apenas que não serão desprezíveis.

E por acreditar no Deus que se fez carne (no ventre de Maria) e classe (na oficina de José), reafirmamos, nesses 40 anos de caminhada, nosso compromisso com a vida plena (Jo 10, 10) e todas as suas formas; de um meio ambiente equilibrado, como direito humano e sagrado, para esta e as futuras gerações; de um progresso civilizado e inclusivo, e, do Rio São Francisco que gera vida para o povo pobre que depende do grande rio.
Em 2009, na Diocese de Bom Jesus da Lapa – Bahia, em nosso 3º Congresso Nacional
denunciamos e alertamos para os descasos vindouros do projeto de transposição do Rio São Francisco, que, atualmente estão bem visíveis.
Também fazemos memória ao compromisso firmado pelos bispos da Bacia do São Francisco, em dezembro de 2017, que em nota haviam denunciado: o enfraquecimento dos afluentes que alimentam o Rio São Francisco; o aumento da demanda de água para a irrigação, indústria e consumo humano e outros usos econômicos; a destruição das matas ciliares expondo os rios ao assoreamento; a decadência visual dos rios e da biodiversidade; o aumento visível dos conflitos nas disputas pela água e, sobretudo, empresas que sempre fazendo prevalecer seus interesses e o Estado acaba por ser
legitimador de um modelo predatório de desenvolvimento. Essas mazelas vêm gerando a destruição gradativa e cruel de nossos rios, de modo especial, do nosso Velho Chico.
Diante dessa triste realidade, relembrando as lutas do 3º Congresso Nacional e seguindo o exemplo dos bispos da Bacia do São Francisco, queremos, enquanto Pastoral da Juventude do Meio Popular – PJMP, reafirmar nosso compromisso em defesa das águas, da vida, do meio ambiente, dos povos originários e tradicionais e da juventude do meio popular.

AMÉM, AXÉ, AWERÊ, ALELUIA, OXENTE!

Casa Nova – BA, 26 de janeiro de 2019